Ah, esta certeza instigante do fim.
Do nada, ou do tudo.
Mas simplesmente e certamente do desconhecido.
Olhamos para o lado, para o tempo passando, e não vemos mais os amigos chegados.
Vamos perdendo as referências vivas.
Vamos nos perguntando quando será a vez?
Como numa loteria de pedras marcadas. Onde seu número está misturado, mas prontinho para surpreender.
E o depois?
Temos que nos preocupar com isso?
Ou nossa ausência será o castigo para os que ficarem?
Ou prêmio?
Afinal, deixaremos vazios de oportunidades.
Não ocuparemos mais espaços em hierarquia, no mando, na eventual autoridade...
Mas... Eu queria tanto ficar mais um pouco.
E mais um pouco do que mais.
Tanta coisa não vivida.
Mas contada, cantada e desejada.
Se possível com asas, guelras e garras.
Voaria sobre campos, mares e cordilheiras,
Mergulharia nas maravilhas das profundezas,
Me agarraria às rochas, picos e gretas...
Me embrenharia no torvelinho das cidades,
Me emocionaria com sua gente,
Me apoiaria nas suas esperanças...
Abriria os olhos do coração para a beleza,
Cobriria meu amor com tantos beijos...
E não esqueceria da outra metade de nossa alma.
Afagaria pelo, pele, cascos e escamas,
Daria de comer a filhotes esfaimados,
Libertaria todos os enjaulados...
Nas crianças eu gastaria mais de tudo.
Bebendo dos seus olhares ingênuos
A esperança da vida renovada.
Companheiro, pai, irmão,
Mãe se preciso...
Mas junto, presente, de mãos dadas.
Respeitaria meu corpo
Me afastaria das agressões...
Me preservaria para mais um dia, que fosse, de amor a terra.
Procuraria meu Deus com mais empenho,
Toleraria minhas dúvidas sobre seu paradeiro,
Me deitaria na certeza de sua companhia...
Ah, se eu pudesse...
Mas eu posso!
Se estou aqui.
Por: Mauricio de Souza
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