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quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um Binga de Gente


O mundo quase não cabia em seu kichute. Quando pequeno, achava que Deus era o tio de barba que ajudava a fazer o gol. Fingia o sono até a mãe silenciar o apartamento. Descalço, sumia com cautela de si, mas deixava os dentes rangendo e uma voz, a mãe cresceu achando que ele falava dormindo. A epóca era fértil, cada passo uma semente, mesmo sem a paciência de esperar germinar: às vezes inundava o quarto de lágrimas tentando regar. Sua paixão era o céu negro, a noite, o futebol dos mais velhos que só acontecia nessa hora milagrada pelas estrelas. Durante muito tempo até ele mesmo acreditou no futebol como motivação. Acreditou no céu, nas estrelas, na lua. Quando finalmente descobriu a filha do goleiro, não teve dúvidas. Os dentes ainda desgastavam o sono da mãe, quando o beijo pintou o rosto dela: no mesmo momento o goleiro sucumbia ao gol, como se intuitivamente soubesse que sua filha acabara de ser menos sua filha e mais namorada de outro. O segredo, o mapa dos pontos escuros do condomínio, e os vestígios sendo apagados, menos os rostos sorridentes, e desculpas cretinas para a felicidade. É a escola pai, está tão bom lá. O cavanhaque diabólico do goleiro-delegado proibia qualquer insinuação. Construiram um barquinho e navegavam as noites, às vezes pescavam estrelas. E o amor em versinhos escorrendo no ouvido dela. Quando as palavras lhe ultrapassavam, jamais perdia o fôlego, sempre pedia carona.

Um dia o goleiro-delegado-cavanhaque diabólico furou o barquinho e o fez de réu. O amor é desses crimes que, confessar é tão bom quanto cometê-lo.


Vitor Freire

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Você faz a sua sociedadade.

 Qual o relacionamento que existe entre você e a miséria, entre você e a confusão, a que existe em você e ao seu redor ? Certamente essa confusão, essa desgraça, não se criou por sí própria. Você e eu a criamos; não foi uma sociedade capitalista ou socialista ou fascista, mas você e eu a criamos no nosso relacionamento um com o outro. O que você é interiormente tem sido projetado no exterior, no mundo; o que você é, o que você pensa e o que você sente, o que você faz na sua vida diária, tudo isso é projetado externamente, e isso constitui o mundo. Se somos desgraçados, confusos e caóticos no nosso interior, pela projeção, tudo isso vem a ser o mundo, a sociedade, porque o relacionamento entre você e eu, entre mim e um outro, é a sociedade - e se nosso relacionamento é confuso, egocêntrico, estreito, limitado, racional, nós projetamos isso e trazemos o caos para o mundo.


Por: Krishnamurti